Sudoeste baiano discute o que fazer com vítimas do amianto

Vitória da Conquista é a maior cidade do sudoeste baiano, uma região onde um dos maiores e mais silenciosos dramas humanos e ambientais está acontecendo em muitos atos dia após dia.

É lá que se reúnem esta quinta-feira (27/09), no auditório da Universidade Federal, das 8h às 18h30, dois grupos que se relacionam com um componente da natureza que se misturou à vida de milhares de moradores de Bom Jesus da Serra: o amianto.

Profissionais de saúde da região vão se reunir com duas pesquisadoras do tema que atuam em universidades do exterior – Annie Thébaud-Mony e Agata Mazzeo – e com os dois procuradores do MPT que coordenam o projeto Banimento do Amianto no Brasil, Márcia Kamei e Luciano Leivas. A Abea e a Abrea, associações baiana e brasileira de expostos ao amianto, também estarão presentes, enriquecendo o debate com as situações reais de dezenas de ex-empregados vitimados com doenças decorrentes da exposição. Mas também há muitos casos de pessoas que adoeceram sem ter trabalhado na Sama.

Um problema praticamente insolúvel, ou então com soluções muito caras. Assim a procuradora do Ministério Público do Trabalho Marcia Kamei define a situação da população que vive no município de Bom Jesus da Serra, no sudoeste baiano. O local abrigou por mais de 30 anos a principal mina brasileira para extração de amianto para uso industrial, mas agora sofre com as consequências da contaminação da população por agentes cancerígenos.

Passivo ambiental - A empresa fechou a mina há mais de 30 anos, mas deixou um passivo ambiental que atinge até quem nasceu depois do fechamento. As ruas são calçadas com escória de amianto e até as casas contêm restos do material. A exposição humana aos resíduos do amianto é causa de câncer e de uma série de doenças respiratórias.

A jazida de São Félix, mesmo desativada, ainda oferece riscos à população. O local foi explorado pela empresa Sama, do grupo Eternit, durante 30 anos, mas foi abandonado sem qualquer preocupação com os resíduos da exploração do amianto para trabalhadores e também para os demais residentes na região. O local chegou a ser usado como balneário de fim de semana or moradores da região.  

Atenção continuada - Ação movida pelo MPF contra o poder público resultou num acordo que prevê o rastreamento de doenças ocupacionais nas pessoas que trabalharam na unidade de extração mineral. Hoje, os órgãos envolvidos buscam mais do que isso. Já discutem com o Ministério da Saúde a criação de um programa continuado de atenção às doenças típicas da exposição ao amianto crisotila. A meta é montar na região uma estrutura de saúde para diagnosticar e tratar cânceres e doenças respiratórias decorrentes da exposição à fibra mineral.

Márcia Kamei justifica a medida informando que o amianto está presente no calçamento das ruas e na própria alvenaria das casas. Uma descontaminação (chamada tecnicamente de desamiantinização) custaria uma fortuna e dependeria ainda da busca de soluções técnicas, visto que até o lençol freático teria sido atingido pela contaminação.

 

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