Profissionais de saúde do sudoeste baiano debatem cuidados com vítimas do amianto

Reflexões sobre estrutura de saúde pública para cuidar de uma grande fatia da população de municípios onde há até hoje contaminação por exposição ao amianto.

O Seminário do Sudoeste Baiano sobre o Amianto levou a Vitória da Conquista, município a 500 quilômetros de Salvador, procuradores do Ministério Público do Trabalho especializados no tema, duas pesquisadores de universidades da Europa, associação de expostos ao amianto e profissionais que atuam na rede de saúde. Eles debateram o modelo de acompanhamento dos ex-empregados e discutiram a proposta de implantar na região uma estrutura de combate a cânceres e outros males relacionados ao contato com a substância.

O evento foi aberto pelo procurador-chefe do MPT na Bahia, Luís Carneiro. “Quando a gente fala em amianto, a gente fala em meio ambiente, em vida, falamos da vida do homem e da mulher trabalhadora”, disse. Além dele, a coordenadora do MPT em Conquista, a procuradora Manuella Gedeon, também esteve presente. Os dois coordenadores do projeto do MPT de Banimento do Amianto no Brasil, Luciano Leivas e Marcia Kamei, participaram das atividades, que prosseguem durante essa sexta-feira (28/09) no Auditório da Ufba.

A fibra mineral já não rende dividendos nem emprego para os moradores de Bom Jesus da Serra, município com pouco mais de dez mil habitantes que convive com restos de amianto extraído da mina local por mais de 20 anos. Ele está em toda parte, no calçamento, nas paredes das casas, no subsolo. Essa é a herança do período em que a Sama, empresa do Grupo Eternit, explorou a mina existente na região, de 1939 a 1967. Além dos impactos diretos em quem trabalhou na extração e transporte do material, a contaminação do ambiente espalhou para os demais habitantes os riscos de doenças relacionadas ao amianto.

De acordo com o procurador-chefe, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial de acidentes fatais de trabalhos. A Bahia tem um incidente a cada 54 minutos e, no Brasil, o número é a cada 44 segundos. Esses dados revelam “a importância da discussão em relação à saúde e segurança do trabalhador”, afirmou. A luta para reconhecer os danos causados pela exploração do amianto na região é antiga. Registros de problemas de saúde e no meio ambiente nesses mais de 50 anos após o fim da exploração resultaram na mobilização de entidades civis para construir ações públicas com foco em assegurar a proteção a essas pessoas.

Na esfera judicial, o Ministério Público Federal garantiu através de uma ação civil pública, a garantia do acompanhamento dos casos comprovados de adoecimento de ex-empregados da Sama. Mas a procuradora do trabalho Márcia Kamei acredita que isso é pouco diante do problema. “Estamos em busca da construção de uma política ampla em relação a Bom Jesus da Serra. Já estamos trabalhando com o Ministério da Saúde a ideia da implantação na região de uma rede especializada no diagnóstico e tratamento de doenças relacionadas à exposição ao amianto”, explicou.

O reitor da Uesb, Luiz Otávio de Magalhães, destacou a importância social do seminário. “Essa atividades não dizem respeito somente a Bom Jesus da Serra, mas envolvem toda atividade de exploração mineral no mundo, em que não temos regras definidas”, pontuou. Segundo a engenheira Fernanda Gisnnasi, fundadora da Associação Brasileira de Expostos ao Amianto (Abram), apesar de terem conhecimento das consequências tóxicas da substância nos trabalhadores, as empresas nada fazem com relação a isso.

“O amianto é uma substância cancerígena para os seres humanos, isso é muito bem estabelecido do ponto de vista científico. Nós temos instituições da OMS [Organização Mundial de Saúde] que confirmam que ele é o grupo 1, quer dizer, não há dúvidas que ele é nocivo à saúde humana. Essas empresas, quando vieram para o Brasil, fugindo da Segunda Guerra Mundial, já sabiam que havia problemas de saúde e elas nunca mencionaram aos seus trabalhadores”, explicou.

---

Com informações e fotos da Assessoria de Comunicação da Uesb

Imprimir